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O DESEJO DO AMOR PELA VIRTUDE


Procuro ser teologal;
estas três virtudes admiro de coração.
Fé, esperança e caridade, uma completa a outra.
Eu nasci para sofrer e acreditar na virtude.
Sofrer é estar disposto a viver sem recear o que a vida
tem para oferecer, mesmo sendo bom ou ruim.
Acreditar é agradecer a Deus tudo que se tem,
considerando–o o Ser Supremo e não se esquecendo
de rogar misericórdias pelos atos falsos.
Acreditar é existir,
a partir do momento em que se acredita, existe–se.
Acredite em sua verdade, que Deus, aos poucos,
de maneira paulatina, mostrar-lhe-á a dele.

Sou um poeta, um amante, um escritor.
Sobrevivo do “nasci porque”.
Esse porquê é que me alimenta e veste–me,
faz–me sorrir e chorar.
Leva–me à dupla personalidade.
Me faz levantar todos os dias
e eleva–me a Deus
em pedido de ajuda, perdão e misericórdia.

- Meu Deus, tire o falso oceano de mim!
Sofro do mal do século!

O desejo é a imaginação em movimento.
O desejo é a distância entre dois corpos.
Horizontal à morte, o desejo torna-se vertical.
Dessa forma, o desejo transforma-se em flecha,
como o arco e flecha da caçadora latina Diana
ou como o da caçadora africana Iyewá,
possuidora de uma indescritível beleza,
que inebria e feri o rei da floresta de fogo.
O desejo e a morte criam o arco.
A flecha lançada por esse arco percorre vertical
e horizontalmente, beirando a morte
para encontrar o segundo corpo.
A morte só triunfará caso a distância
eleve a flecha ao ponto horizontal culminante.

O amor perfeito é sempre onipresente
num livro de conto de fadas, que, aberto, lê–se:
"Era uma vez... E viveram felizes para sempre".
Esse amor é manifestado sem vida, está guardado,
mesmo que se abra o livro,
o amor perfeito não sai, não escapa, não se torna real.

Acreditar faz–me não ser limitado para levar a crer,
porém as barreiras do limite avisto,
sem ultrapassá–las quando sou verdadeiro.
Não meço esforços para ser paciente e persistente,
porém privo–me a viver com o que Deus me concede.
Meu Deus, que o amor e a inteligência
estejam em estado de paroxismo em mim,
para que eu possa assim adquirir
a água destas para saciar minha sede de saber.
28/01/99

(Primeiros Momentos, 2001)

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