TEAR POÉTICO

Quando criança eu dizia “Minha mãe do céu”, Enquanto as outras crianças Diziam “meu pai do céu”. O próprio pai se androginou em mim, Mas para perpetuar sua paternidade Me disseram. Vim para o mundo regido por caminhos femininos tendo como pai o filho de uma aquilina mãe. A filha da noite é minha insígnia E essa filha é ascendência. Sou sob a luz e as trevas Fui gerado da união entre dois destinos de essência feminina Para ter por pai o Sol.

Amor surdo e mudo. Silêncio inquisidor, devorador de entranhas. Doença sorrateira. Resistência, persistência. Insanidade, desespero. Solidão, amargura. Estagnação, infertilidade. Seu ódio aborta a hipótese da existência. Embora o tempo alimente o inexistente, Mais aqui dentro recorda a idiota possibilidade. O esquecimento é a pior morte. Promessa de amor, profecia de vingança: "Se não me esquecer, eu não o esquecerei". Em plena Lapa, acreditei nos versos da amada. E até hoje o encantamento não foi quebrado. Ainda pago os tributos por essa saudade.