Há mais de dez anos, quando estive em Belém, no Pará, eu comprei um relógio. Observando as vitrines do shopping, avistei um modelo que me agradou. Eu queria substituir o que me havia sido presenteado por uma ex-namorada. Como esquecer de alguém se você usa uma lembrança dada por essa pessoa no pulso pelo dia inteiro? Ainda mais um utensílio que nos prende, estilhaça como poeira e orienta no tempo. Comprei um maior, moderno e mais bonito, porém prateado e da mesma marca. Muito radical, né?! Até parece. Aposentei o antigo objeto em uma gaveta e passei a usar o meu novo xodó, representação de uma nova caminhada. Status de titularidade. É aquela repaginada que cismamos em realizar no final de uma relação amorosa desgastada. É como se renovássemos o material, imaginando, equivocadamente, mudar o espiritual. Também não vou negar que dá uma aprumada na autoestima. Todavia, associar consumo a melhoria interna pode ser muito nocivo. O "novo" relógio passou alguns anos no meu pulso e
Espaço de pensamentos espirais para tecelagem de encruzilhadas poéticos diversas.