No início do século XXI, após o encerramento
das batalhas da Guerra Civil, os heróis da Marvel se mantiveram divididos em
dois blocos: os que apoiavam a causa do Homem de Ferro e os que acreditavam nos
ideais do Capitão América. Com o desfecho desses episódios, aparentemente o
entendimento passou a reinar entre os dois grupos. Até o momento em que eles
descobriram que há anos ocorria uma invasão secreta de alienígenas no Planeta
Terra. Era a invasão dos eskrullmínions. E o foco da ocupação era um país da América
do Sul, o Brasil. Eles se proliferavam de tal maneira que não dava mais para
saber quem era quem, pois a raça desses usurpadores alienígenas tinha a
capacidade de metamorfosear sua aparência em pessoas normais, as quais
achávamos que conhecíamos. Ainda que tivessem similaridades no perfil das redes
sociais - óculos escuro e cara de mau -, não conhecíamos mesmo! Eles estavam
apenas escondidos nos armários! Mas como o dedo coçava, lançavam alguns
comentários suspeitos nas redes sociais. Mas como a língua coçava, destilavam
seu veneno, que chamavam de “piada” em conversas cotidianas. Eles foram se
reproduzindo até alcançarem altos escalões do governo brasileiro. Eles tinham
seus próprios superpoderosos. Embora a capacidade cognitiva não fosse atraente,
o poder destrutivo era avassalador. Eles estavam há anos planejando conquistar
o país, mas ainda não tinham encontrado o momento ideal. A estratégia era
disseminar ideais que fizessem parente se voltar contra parente, enquanto eles
se apossavam dos postos de poder. O representante escolhido era o cruel
Eskrullnaro, um capitão apaixonado pela história do Caveira Vermelha (dizem que
tinha até um nudes dele!). Ele tomou o lugar do Capitão 7, antigo herói da
Record. Embora não demonstrasse inteligência, seu sadismo impressionava e
alegrava sua raça alienígena. Era uma época de muita perseguição à cultura e
destruição da educação.
Chegando ao Rio de Janeiro, eles foram direto
para a Floresta da Tijuca, onde se encontrariam com o indígena Sete Flechas da
Mata Escura, pois ele sabia do paradeiro do catimbozeiro. Após os primeiros
raios de sol, o caboclo de pena, ancestral da etnia pataxó, que estava
espionando as ações suspeitas do general da Hydra, o necropolítico
Eskrullvizel, indicou quem eles deveriam procurar primeiro. Se Sete Flechas não
estivesse preocupado com as águas das cachoeiras, que poderiam ser contaminadas
por esse eskrull, ele mesmo iria com os heróis no 99 que ele tinha pedido pelo
aplicativo.
Então, no final da manhã, seguindo as
coordenadas do caboclo, eles chegaram à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos, na Uruguaiana. Mas antes de continuarem a procurar, resolveram
comer uma quentinha vendida por um empreendedor ambulante do Saara, pois a
comida era limpinha, honesta e baratinha. Após o meio-dia, quando os Tambores
de Olokum iniciassem o desfile da felicidade, os três deveriam se misturar aos
foliões e às catitas, pois alguns ali poderiam ser eskrulls disfarçados. Canja
de galinha não faz mal a ninguém, a não ser que a ave seja alienígena também.
Eles deveriam procurar um feiticeiro chamado Garnizé. Esse homem marcaria o
encontro com seu Zé. Dito e feito! O feiticeiro dos tambores marcou o encontro
para noite do mesmo dia. Seria no samba do Beco do Rato, ao lado do bar do
Adalto, prédio onde morou Manuel Bandeira, autor do "Poema do beco",
que fica na Lapa... ou na Glória, pois a ambiguidade do local era importante
para o segredo.
Os três heróis dançaram no meio dos Tambores.
Com um abraço, Deadpool desmaiou o Adriano Cor, que era a baiana rica, e vestiu
sua roupa. Homem-Aranha estava tocando em uma alfaia, enquanto Logan fumava um
charuto dona flor e bebia cerveja comprada em um dos mil camelôs. Dos Tambores,
eles foram para Lapa. Era o primeiro sábado do mês! Dia da Feira do Lavradio.
Lá dançaram no baile charme e beberam mais cerveja. Depois foram para Gomes
Freire e beberam no depósito, onde conheceram a Negona do Axé, Margarete
Mendes, e o Doutrinador, um caçador de políticos corruptos. Foi ela que os
levou ao Beco do Rato.
Chegando ao Beco, a roda de samba era do Mingo
Silva com participação especial do Reinaldo e da Leci Brandão, que estavam na
cidade por aqueles dias. Os três heróis pagaram o couvert de 15 reais, pois
conseguiram postar o nome na lista amiga do facebook em tempo, colocaram a fita
no pulso esquerdo. Quando adentravam, o Mingo cantava “saudação aos tambores”
com Clementina de Jesus: “Respeite o rufar dos tambores / Batuque que traz e
que leva / Nossos ancestrais protetores / Livrai nossa gente da treva /
Caboclos, erês, orixás / E o povo que dança na rua / Iluminem o meu caminhar /
Com o brilho e a força da lua”. Vários ogãs acariciavam os atabaques, tantãs e
tumbadoras. O canto mágico desmascarava e exorciza qualquer eskrull que
estivesse presente. Eles não resistem à força ancestral dessa oração sobre os heróis
afro-brasileiros. É por isso que lá era um espaço onde não tinha alienígena.
Havia muitos heróis presentes no Beco e inúmeros outros espalhados por outros
lugares, pois a luta é grande e contínua. No tamborim, estava o Bira da Vila.
Jacob estava no Bandolim, admirado pelo Hamilton. Paulão, Carlinhos e Yamandu
revezam no violão sete cordas. No pandeiro, Donga. Ubirany no repique de mão.
Almir no banjo. Na flauta, Pixinguinha. Um inspirado Zeca da Cuíca. De vez
enquanto, Aragão dizia que deixaria a meninada Martins, Inácio e Nilze
encostarem no cavaco. Mentira, pois Paulinho da Viola estava de olho. Tantinho
e Bira deslizavam com o sapato bicolor pelo salão. E só Ierê Ferreira tem as
fotos desse dia, estão escondidas lá no Saravá Bien, mas ele vai negar.
Flávio Lima, que estava no reco-reco, queria
muito cantar naquela roda e levantou-se. Mas tomou um esporro do Nelson
Cavaquinho que estava bebendo com o índio de Rio das Ostras:
- O Flavinho, meu poeta, para de palhaçada! Eu
mesmo, eu mesmo não vou cantar, Cartola não vai cantar, a Beth, aí, a menina
Beth não vai cantar! Sossega, sossega o facho na cadeira. Ah, parece criança.
Continua fazendo coro igual a gente.
Flavinho, amuado, volta para cadeira à mesa
onde ele estava sentado com Massari, Amílson, Chico Buarque e Jovelina. O cara
dos olhos de ardósia bate na perna dele e diz:
- Fica triste não, Neguinho. Quando eu for
fazer meu show na Casarti, eu deixo você abrir só com música autoral. Tá bom?
Fica triste não. Você abre com Mariano e Nei Lopes, tá bom? Por enquanto, vamos
fazendo coro porque está tudo lindo.
[[[ ... mas, na boa, galera leitora, oi, tudo
bem? mas olha aqueles três ali, sei que vocês já estão viajando na imaginação,
Chico Só, Dani, Jufreitas, Penninha, eles já estão chapados tamanha a
felicidade e a quantidade de cerveja, mas eles nem iriam entrar nesse conto. Foi
em conversa pelo WhatsApp que tiveram essa ideia...
Ô, ô, ô, se mete aqui não, a narrativa é minha.
Mete o pé, Mercenário Tagarela! Faça suas sátiras, digressões e metalinguagens
nos seus quadrinhos! Agora você acha que eu ia dar mole e não estar presente no
meio de tanta gente boa? Só que eu estava quietinho no meu canto. E Dani nem
bebe! Você que me denunciou. Mas, Wade, vai quebrar a quarta parede nos seus
filmes ou histórias em quadrinhos! ]]]
Ao entrarem, logo de cara, bebendo uma cerveja
com Bezerra da Silva, Luiz Carlos da Vila e Candeia, eles encontraram seu
Beira-Mar, que não podia fazer nada, pois possuía muitos eskrullmínions
disfarçados de devotos. Beira-Mar não tinha culpa nenhuma dessa galera,
principalmente os que se achavam bicho feroz com revólver na mão. Como quem que
não quer nada, igual a um caguete, apontou o dedo para um velho de chapéu de
palha, que estava sentado à mesa com Cartola, Ismael Silva, Wilson Batista e
Noel Rosa. Mas Pelintra era novo demais em relação àquele senhor. Não poderia
ser o Zé mesmo!
- Com licença, o senhor que é o José Pelintra?
- Da parte de quem?
- Um amigo em comum disse que encontraríamos o
seu Zé aqui, e Beira-Mar apontou para o senhor.
Cartola, Ismael, Wilson e Noel riam de se
esbaldar da cara debochada que Mestre Ambrósio fazia. Madame Satã, Camisa Preta
e Maria Navalha, que faziam a segurança, logo ficaram de olho nos três heróis
da Marvel. Com uma pernada ou rabo de arraia botavam-nos pra dormir.
- Meus filhos, vocês vieram de muito longe!
Provem o angu da Mãe Obá ou comam da feijoada da Surica ou saboreiem o acarajé
do Aromirê. Aproveitem que não conhecem nossos paladares.
Wolverine queria colocar as garrinhas de fora,
Deadpool queria falar suas gracinhas, Peter Parker colocava panos quentes.
- Mas quem é o senhor? Pergunta asperamente
Logan.
- É o respeitado marabu Ambrósio! Algum
problema? Madame Satã bate no ombro do Esqueleto de Adamantium, que sente a
desmedida força do gigante. Fora a chegada que Camisa Preta deu no Wade Wilson.
Navalha de braços cruzados, enquanto a mutante carioca Nata preferiu ficar na
portaria. Logo, logo os dois heróis da Marvel colocaram a viola no saco. Ia dar
muito ruim pra eles no Beco do Rato, que estava pequeno nesse dia.
- Aniceto do Império, pede para a segurança
deixar os meninos em paz. Eles vieram para uma missão muito importante.
Navalha, não assusta os meninos. Rose, por favor, traz uma caipirinha pra esses
meninos aqui!
Continuando, diz o mestre, embora o fervo
quente no Beco do Rato:
Mestre Ambrósio (marabu, muçurumim). |
Nesse exato momento, o pequeno Martinálio
esbarra no Wolverine e diz:
- Vem comigo que o Zé está ali conversando com
a Sete Saias.
E lá foram para o outro extremo do Beco. Homem
Aranha quase não foi porque não conseguia tirar os olhos da cigana Esmeralda.
Paixão à primeira vista, pois ela lembrava a Gwen Stacy.
- Seu Zé, esses homens querem falar com senhor.
- O senhor é o seu Zé Pelintra, né? Desculpa,
boa noite.
- Claro que sim, meus camaradas! Boa noite
também! Para eu responder ao que desejam de mim, primeiro quero algo em troca!
Paguem um aperol porque hoje eu estou nojento e insuportável de sede. Lucas,
traz um spritz na conta dos cavalheiros aqui... calma, traz dois... um pra mim,
outro pra madame que está comigo. Diz pro Moa Luz e pro Aldir que vou beber
todo o aperol deles hahahah!
Zé beliscava da macaxeira, jerimum e carne de
sol do boiadeiro Novezala. Após receber sua bebida, o anti-herói Zé Pelintra,
que tinha conseguido fugir do cativeiro em que o fundamentalista Eskrullvela o
havia colocado, começa a desfiar o terço das histórias. Cada um dos três heróis
deveria procurar um babalaô e consultar seus destinos. Zé Pelintra sabia que os
três estavam no Brasil representando o grupo do Capitão América. Mas cada um
deveria descobrir sozinho os motivos de estar naquela missão. O sucesso ou
derrota de cada um seria consequência da escolha individual.
- Camaradas, aqui nessa terra brasuca, todo
babalaô é na verdade um “pai de santo” de candomblé com maneiras
ocidentalizadas, já que todos atuam de acordo com a realidade brasileira,
inclusive os que são iniciados neste mesmo solo sul-americano. E as
sacerdotisas, naturalmente, são as ‘mães de santo”. Uma coisa posso adiantar,
vocês três são filhos diletos de Exu. Tenham bastante atenção com a mensagem
que será revelada, pois a batalha é iminente, outros heróis chegarão logo,
logo, mas o destino de cada um é pessoal. Cada um tem seu próprio destino na
vida. Peçam discernimento a Exu, pois é pai de todos vocês. Saindo daqui, vão
na direção do metrô da Glória. No meio do caminho, vocês encontrarão um homem
de cabelo acaju, tipo um segurança. Não sei se sabem, mas há muito esckrullmínion
machão que gosta de bater nas meninas, que eles contratam para fazerem deles
meninas. Esse cara que devem procurar é o protetor das meninas e dos meninos
que trabalham na rua. Às vezes, ele me enche a paciência me oferecendo cachaça
de péssima qualidade. Ele tem cara e jeitão de eskrullmínion, mas é uma forma
de ele sobreviver entre esses alienígenas. Falem com ele em meu nome, porque o
Malheiros está me devendo muitos favores. É ele que vai indicar os sacerdotes
que devem procurar. Segunda-feira, nos encontramos no Samba do Trabalhador. Vão
na sombra!
Após obterem as informações pelo protetor das
meninas e meninos que fazem ponto na Glória, lá foram os heróis aos babalaôs.
Em Salvador, Wolverine foi a um sacerdote brasileiro à maneira beninense. Em
São Paulo, Deadpool visitou um brasileiro iniciado à moda nigeriana. No Rio
Grande do Sul, Homem-Aranha visitou um sacerdote iniciado à forma cubana.
Temendo que os sacerdotes indicados, todos "brancos" de classe média,
tivessem sido possuídos por eskrullmínions, o protetor fez um alerta. Quando voltassem
para o Rio, os três deveriam confirmar as mensagens oraculares com uma mãe de
santo, que mora na Praça Onze. Protegida pelos grandes alufás Assumano, João
Alagbá, Cipriano Alabedé e Arnaldo Babaribô, Tia Ciata daria o veredito final.
Como esses mandingas estavam numa missão secreta no Multiverso, não tinham como
ajudar os heróis da Marvel naquele momento, por isso foram feitas as indicações
fora do Rio.
Rivais em outras situações, mas amigos nesta
missão no Brasil, os três desejavam a primazia do sucesso. Para cada um, a
mensagem oracular foi a mesma. Eles precisam se apresentar ao culto de Ifá. Mas
eles não dispunham do honorário pedido. Muito menos eles dispunham de tempo,
pois, como disse Zé, outros heróis, e até rivais, chegariam logo. Então, os
sacerdotes prescreveram as oferendas paliativas. Assim, os caminhos seriam
abertos para que a vitória fosse garantida. As oferendas foram as mesmas,
realizadas no mesmo dia. As coincidências foram inúmeras: mensagens, oferendas
e preços, tudo tabelado!
Mas tinha um dado oculto. Homem-Aranha era
informante do Homem de Ferro. À vista disto, enquanto os três estavam
consultando os babalaôs, heróis dos dois grupos chegaram sabendo de todas as
coordenadas, infiltrando-se entre os populares brasileiros.
Na segunda-feira, os três se encontraram no
Samba do Trabalhador. À entrada do samba, São Jorge perguntou se eles tinham
ido à casa da Tia Ciata, o que responderem em negativa. Eles já se achavam
protegidos. São Jorge diz para Santa Bárbara:
- Eles foram avisados. Tia Assiata é muçurumim,
só confio nela contra essa galera que paga pra ser bambambam. Se a missão der
errado, o problema é deles. Aqui o solo é indígena, é negro, é brasileiro. Não
cabem racistas nem fascistas.
Jorge, voltando para os heróis:
- Vão encontrar eskrulls disfarçados aqui
dentro... os mesmos que podem ser encontrados no Terreiro de Crioulo, na Feira
das Iabás, no Buraco do Galo... esses eskrullmínions não gostam de samba que
fale em matrizes africanas, de povos indígenas! Mas eles vão assim mesmo. Para
eles, todos os pretos e as pretas velhas são brancos e brancas. Eles estranham
preto ter o mesmo que eles. Preto não viaja de avião, não vai à Disneylândia,
nem o Ariano Suassuna. E isso podem perguntem ao Nego Álvaro ou à Teresa
Cristina. Alguns têm tatuagem minha no peito, nas costas ou em outra partes do
corpo. Outros têm cordão com minha imagem e assim vai. Eu sou santo, mas não dá
pra proteger a todos. Faço a minha parte. Olha, já digo logo, eu não tenho
culpa se esses racistas e fascistas rezam para mim. Vocês encontrarão o Zé
Pelintra aí, caso tenham feito as oferendas certas. Boa sorte!
Mas os Wolverine, Deadpol e Homem-Aranha não
ligaram, pois racismo à brasileira em tempos de eskrullmínions não é fácil de
ser entendido mesmo. Antes de comprarem os ingressos, alguns erês pediram uns
trocados para comprarem salsichão ou cachorro-quente. Não todos, pois alguns
queriam mesmo era comprar um latão de cerveja. Pelo menos, eles deram umas
moedas para os pixotes. Ao menos, a patota de Cosme e Damião tinha abençoado os
heróis. E isso foi fundamental.
Ao cruzarem os umbrais do Rena, como é
carinhosamente conhecido o Renascença Clube, quase foram impedidos, pois o
detector de metal implicou com o Esqueleto de Adamantium. Mas tudo foi
esclarecido por São Jorge. Foram recebidos ao som de “Natureza e fé” sendo
cantado pelo Moacyr Luz e Teresa Cristina: “Meu amor / Quando vem / É Xangô,
meu orixá, meu bem / Carrega a claridade do trovão nas mãos / Um raio sentencia
os corações / Senhor das cordilheiras, por favor / Entenda o meu desejo / a
minha dor.” Como de praxe, o samba estava lotado. Mas, próximo ao palco, havia
um tipo viking muito familiar. Era o Thor, que não quis se juntar a nenhum dos
dois grupos. De blusão florido, bermudão, havaianas nos pés e um ileké vermelho
e branco no pescoço com seguis azuis, ele cantava emocionado com uma latinha de
Brahma na mão. O balde de cerveja era dele e do Luke Cage, pois a Jéssica Jones
só queria beber caipirinha de Pitú. Eles estavam puxando o saco do Júnior para
tirarem uma selfie com seu avô Silas de Oliveira e João Nogueira.
Os acontecimentos que seguiram não foram bem
esclarecidos. O que acontece no Rio fica no Rio! Somente sabemos que eles
terminaram a noite, ou iniciaram o dia, depende da perspectiva, no morro de
Santa Teresa com Toninho Geraes, após saírem do samba da Pedra do Sal na
companhia do Mancha Solar, um mutante carioca dos X-Men, ex-jogador de futebol
da base do time do Flamengo. Dizem que a mancha não era solar, mas de incêndio.
O importante é que, em menos de uma semana, a missão de todos os heróis tinha
finalizado no Brasil.
Mas alguns heróis não queriam fazer parte da
patota de nenhum dos dois grupos na luta contra os eskrullmínions.
O Demolidor já estava saturado dos embates com
Wilson Fisk, o Rei do Crime. Por isso, não estava muito a fim de lutar contra o
Escritório do Crime. Embora fosse católico fervoroso, começou a frequentar as
festas de Umbanda, que ocorriam às escondidas, pois a ordem das milícias
religiosas era acabar com tudo. Como advogado, Matt Murdock gostou de tomar
umas consultas com Seu Veludo, em Duque de Caxias. Numa noite dessas de calor, acompanhando
o Thor, eles foram à festa de Xangô na casa de seu Laudelino, em São João de
Meriti. Thor ia dar um machado de presente para Xangô, de quem ele era devoto.
Foi lá que o Demônio de Hell's Kitchen se apaixonou pela Natasha Romanoff, onde
a Viúva Negra não conseguia esconder o segredo de ser filha de Iyewá.
T'Challa, rei de Wakanda, a princípio inclinado
à defesa dos ideais de Tony Stark, preferiu não se envolver mais na rixa entre
os filhos de Ogum. Ah, Capitão América e Homem de Ferro eram filhos de Ogum!
Embora o Steve Rogers fosse protestante, intolerância religiosa não era com
ele. Por ser descendente da família de antepassados ligados ao culto da terra,
ele mesmo, parente do leopardo negro Kposun, não queria se meter nessa briga. E
foi no show 2 Arlindos, na Fundição Progresso, que ele reencontrou Ororo
Munroe, seu grande amor. Por incrível que pareça, eles se viram exatamente
quando Arlindo Cruz cantava “Oyá / É o povo de cá pedindo pra não chover /
Nossa gente ilhada precisa sobreviver / E levantam-se as mãos, pedindo pra deus
Oyá / Já não se vive sem farinha e pirão não há...”. Ogã Batata estava na
percussão à frente de um enorme atabaque, enquanto Xobaniré coreografava a
dança da Senhora dos Ventos. Pantera Negra e Tempestade reataram a relação,
indo passar uns dias em Cachoeira, na Bahia, pois, como ela era iniciada em
criança para Iansã, queria visitar seu Pai Procópio de Ogum e apresentar seu
companheiro.
Após os episódios da interminável
segunda-feira, Wolverine, Deadpoll e Homem-Aranha, flechados como São Sebastião
por cupidos cariocas, escolheram abandonar a vida de heróis passando a morar no
Rio. Wolverine foi morar em Nilópolis, na Baixada Fluminense, apaixonado por
uma passista que parecia com a Jean Grey. Para se manter, começou a fazer uns
bicos de segurança do Neguinho da Beija-Flor.
Homem-Aranha resolveu voltar para Lapa, foi
morar num hostel na Joaquim Silva, perto da escadaria Selarón. Tiraria seu
sustento atendendo gringos, fazendo acrobacias nos arcos da Lapa, vendendo artesanato
em frente ao Leviano’s ao lado da barraca de caipirinha do Gordo. Também fazia
uns bicos de dançarino na Carreta da Alegria e com pole dance no MetrôRio
(Linha 1) ou Supervia (ramal Japeri). Estava apaixonado pela cigana Esmeralda.
Cansei de vê-lo doidão na roda de samba do Pipa Vieira e do Makley Matos.
Deadpool foi o que menos teve sorte. Na
terça-feira, ele foi parar na UPA 24h, sendo atendido pelo SUS. Ele tinha
confundido a água da torneira com cerveja, já que possuía colarinho similar.
Como seu fator de cura foi ineficaz, ele pegou uma ziquizira braba, fora a diarreia.
Infelizmente, Sete Flechas e os caboclos não tinham conseguido impedir a
contaminação da água. Mas agora o herói falastrão já está melhor, porém
continuará em observação na UPA, pois estão fazendo pesquisas com seu fator de
rápida recuperação.
Aliança forte era a dos eskrullmínions. Eles
conseguiram enfraquecer os heróis da Marvel, eliminando os dois grupos. Mas
ainda restavam os dois cabeças. Homem de Ferro e Capitão América estavam
sozinhos e decepcionados, mas ainda eram muito perigosos. Então, com seus
fakenews por WhatsApp clonado, os eskrullmínions conseguiram reativar
resquícios da guerra civil no Brasil. Várias vezes ao dia, os dois heróis
passaram a postar alguma indireta no Facebook. Quando eles se encontraram na
Cinelândia, já estavam com a cabeça feita para a briga.
De um lado, Homem de Ferro gritava:
- Ogum é meu pai, ele vence demanda, ele está
do meu lado. Ele vai me ajudar a vencer você, Capitão!
Do outro lado, Capitão América bradava:
- Ogum é meu pai, ele vence demanda, ele está
do meu lado. Ele vai me ajudar a vencer você, Tony!
Quando parecia que iam bater cabeça com cabeça,
a baiana Hilária Batista, Tia Ciata, que tinha montado sua barraca de quitutes
quase em frente ao Amarelinho, resolveu intervir:
- Meus meninos, o que está acontecendo aqui?
Tenham a calma de Oxalá. Vocês não são inimigos, são irmãos de cabeça. Eu ouvi
dizerem que Ogum é pai de ambos. Aprendam uma coisa. A verdade e a mentira são
ditas pelo mesmo búzio dividido apenas pela fresta natural. O valor é o mesmo,
mas o preço é apenas subjetivo. A pessoa que cita um provérbio africano para
acusar alguém de mentira, vale-se da presunção de ser superior e verdadeira.
Mas o mesmo versículo pode servir para destitui-la de sua presunção e acusá-la
de mentirosa. A presunção de estar acima do bem ou do mal, de ser a medida da
balança, de ser o legítimo representante da verdade absoluta, levará vocês dois
a um destino comum, a derrota.
Muito legal o seu texto, inteligente engraçado, mostra o nosso momento político com sua saudade..haaa saudade...Grande abraço e parabéns 👏👏👏👏. Tem uma pessoa que além da grande saudade irá explodir de orgulho de voce!!!👏👏👏
ResponderExcluirIrado, Penna! Sucesso p vc
ResponderExcluirOnde esses caras foram se meter, o Brasil não é pra amadores, e a resistência é a cultura que teima em se fazer e permanecer durona, o tormento vai passar, viva os heróis dos ancestrais.
ResponderExcluirShow!!!! Orgulho de vc
ResponderExcluirVindo de você não poderia ser mais surpreendente e inteligente.
ResponderExcluirSucesso!!!