Pular para o conteúdo principal

É UMA FIGURA


“Feliz não é quem cedo levanta, mas
quem cedo bebendo, o mal espanta.”
(Gargantua – RABELAIS)

Amigo, sua história é a luz da verdade.
Domingo, foi à festa com maldade.
Comprou convite? Comprou não.
O convite é necessário comprá-lo.
A você não lhe agrada tais comentários.
Penetra, não tem medo de ser.
Na grande casa, não podem lá descobrir todos.
A festa é em frente ao braço de mar.
Em uma dança mansa que não cansa,
Comeu mais de dois pratos e morreu.
Deu o último suspiro, caiu para trás.
Acontece que o meu amigo mudou de residência para outro mundo.
Tudo se tornou silêncio, tudo se tornou calma, mudez.
Ó, Deus, guarde a salvo o heroico e altivo beberrão!
Bebeu nada! Esta só frase em si resume tudo.
Está morrendo de frio, ali, no terno de areia que vestiu.
Abaixo, via a terra, base sem nitidez.
Acima, via o céu, redemoinho incessante.
Era um fantasma, que o “Senhor” com sua suave e doce voz a ele falou:
- Levante-se da areia e vamos.
E ele:
- Perrr... doa meusss pecados e leva-me para a tua morada, hic!, Sinhô!
E o “Senhor” disse:
- Pinguço sem teto, que bebe a consciência, a sua casa carregar-lhe não vou! Limpe o vômito do seu corpo, desce desse descente andor e não me chame de Senhor
 .

(Primeiros Momentos, 2001)


* ao amigo Márcio Hilário.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CACIQUE DE RAMOS, O DOCE REFÚGIO DA SAGRADA TAMARINEIRA

      No último domingo de julho, eu recebi um convite irrecusável. Até que enfim: eu pisaria o chão do Cacique de Ramos! Reduto de inúmeros famosos do mundo do samba, entre Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Almir Guineto, Jorge Aragão, Marquinhos Satã, Beto Sem Braço, Arlindo Cruz, Neoci, Sombrinha, Cleber Augusto, Jovelina Pérola Negra e Luiz Carlos da Vila. Ufa! São tantos e tantas mais. O ano era 2008, o último bissexto da década de 2000. Por mais estranho que parecesse, eu ainda não havia transitado pelo espaço da sagrada árvore tamarineira. Eu conhecia os pagodes da rua Bariri, mas não os da rua Uranos. Como poderia eu ainda não ter conhecido esse tradicional território do samba no Rio de Janeiro? Quando criança, passei muitas vezes de ônibus pela Uranos, em Olaria, e olhava para a entrada, mas isso não conta. A primeira passagem, penso, deve ter sido quando meus pais nos levaram, eu e meus irmãos, ao parque de diversões Shanghai, que fica aos pés da...

A INVASÃO DOS ESKRULLMÍNIONS E A RESISTÊNCIA DOS ANTI-HERÓIS BRASILEIROS

No início do século XXI, após o encerramento das batalhas da Guerra Civil, os heróis da Marvel se mantiveram divididos em dois blocos: os que apoiavam a causa do Homem de Ferro e os que acreditavam nos ideais do Capitão América. Com o desfecho desses episódios, aparentemente o entendimento passou a reinar entre os dois grupos. Até o momento em que eles descobriram que há anos ocorria uma invasão secreta de alienígenas no Planeta Terra. Era a invasão dos eskrullmínions. E o foco da ocupação era um país da América do Sul, o Brasil. Eles se proliferavam de tal maneira que não dava mais para saber quem era quem, pois a raça desses usurpadores alienígenas tinha a capacidade de metamorfosear sua aparência em pessoas normais, as quais achávamos que conhecíamos. Ainda que tivessem similaridades no perfil das redes sociais - óculos escuro e cara de mau -, não conhecíamos mesmo! Eles estavam apenas escondidos nos armários! Mas como o dedo coçava, lançavam alguns comentários suspeitos nas rede...

Viagem em transe mítico

VIAGEM EM TRANSE MÍTICO:  mestiçagens, imaginários e reencantamento do mundo é um livro acadêmico , fruto das leituras, da investigação e das reflexões de Fábio R. Penna para a sua pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais do Cefet/RJ. Não se engane, porém: ao analisar o romance "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra" (Mia Couto, 2007), Penna constrói suas análises e narrativas de modo poético e conduz o leitor a uma viagem mítico-poética-espacial supreendentemente agradável.  O livro de Mia Couto leva-nos entre dois diferentes mundos, e a análise de Fábio Penna é uma companhia afável nessa jornada, mostrando-nos interpretações sensíveis dos caminhos que o escritor moçambicano escolheu  para seus personagens. Numa conexão sofisticada entre Campbell, Mia Couto, Todorov, Alassane Ndaw, Hampâté Bâ, Harry Garuba, entre tantos outros e outras, o pesquisador, em sua postura ética diante da ancestralidade, da literatura e da cultura,...